O MAR VERMELHO
"Os que descem ao mar em navios, mercando nas grandes águas, esses vêem as obras do Senhor e as suas maravilhas no profundo" (SI 107:23-24).
Quão verdadeiras são estas palavras! E contudo como os nossos corações covardes têm horror a essas "grandes águas"! Preferimos os fundos baixos, e, por consequência, deixamos de ver "as obras" e "as maravilhas" do nosso Deus; pois estas só podem ser vistas e conhecidas "no profundo".
É nos dias de provação e dificuldades que a alma experimenta alguma coisa da bem-aventurança profunda e incontável de poder confiar em Deus. Se tudo fosse sempre fácil nunca se poderia fazer esta experiência. Não é quando o barco desliza suavemente à superfície do lago tranquilo que a realidade da presença do Mestre é sentida; mas sim, quando ruge o temporal e as ondas varrem a embarcação. O Senhor não nos oferece a perspectiva de isenção de provações e tribulações; pelo contrário, diz-nos que teremos tanto umas como as outras; porém, promete estar conosco sempre; e isto é muito melhor que vermo-nos livres de todo o perigo. A compaixão do Seu coração conosco é muito mais agradável do que o poder da Sua mão por nós. A presença do Senhor com os Seus servos fiéis, enquanto passavam pelo forno de fogo ardente, foi muito melhor do que a manifestação do Seu poder para os preservar dele (Dn 3). Desejamos com frequência ser autorizados a avançar na nossa carreira sem provações, mas isto acarretaria grave prejuízo. A presença do Senhor nunca é tão agradável como nos momentos de maior dificuldade.
Assim aconteceu no caso de Israel, como vemos neste capítulo. Encontram-se numa dificuldade esmagadora—foram chamados a mercadejar "mas grandes águas"; vêem esvair-se-lhes "toda a sua sabedoria" (Sl 107:27). Faraó, arrependido de os haver deixado sair do seu país, decide fazer um esforço desesperado para os trazer de novo. "E aprontou o seu carro e tomou consigo o seu povo; e tomou seiscentos carros escolhidos, e todos os carros do Egito, e os capitães sobre eles todos... E, chegando Faraó, os filhos de Israel levantaram seus olhos, e eis que os egípcios vinham atrás deles, e temeram muito; então, os filhos de Israel chamaram ao Senhor" (versículos 6-10). Aqui estava uma cena no meio da qual o esforço humano era inútil. Tentar livrarem-se por qualquer coisa que pudessem fazer, era a mesma coisa que se tentassem fazer retroceder as ondas alterosas do oceano com uma palha. O mar estava diante deles, o exército de Faraó por detrás, e de ambos os lados estavam as montanhas; e tudo isto, note-se, havia sido permitido e ordenado por Deus. O Senhor havia escolhido o terreno para acamparem "diante de Pi-Hairote, entre Migdol e o mar, diante de Baal -Zefom". Depois, permitiu que faraó os alcançasse. E por quê1?- Precisamente para Se manifestar na salvação do Seu povo e na completa destruição dos seus inimigos. "Aquele que dividiu o Mar Vermelho em duas partes; porque a sua benignidade é para sempre. E fez passar Israel pelo meio dele; porque a sua benignidade é para sempre. Mas derribou a Faraó com o seu exército no Mar Vermelho, porque a sua benignidade é para sempre" (SI 136:13-15).
O Propósito de Deus
Não existe sequer uma posição em toda a peregrinação dos remidos de Deus cujos limites não hajam sido cuidadosamente traçados pela mão da sabedoria infalível e o amor infinito. O alcance e a influência peculiar de cada posição são calculados com cuidado. Os Pi-Hairotes e os Migdoles estão dispostos de maneira a estarem em relação com a condição moral daqueles que Deus está conduzindo através dos caminhos sinuosos e dos labirintos do deserto, e também para que manifestem o Seu próprio caráter. A incredulidade sugere com frequência esta pergunta: "Porque é isto assim £ Deus sabe; e, sem dúvida, revelará a razão, sempre que essa revelação promova a Sua glória e o bem do Seu povo. Quantas vezes somos tentados a perguntar porque e com que fim nos achamos nesta ou naquela circunstância! Quantas vezes ficamos perplexos quanto à razão de nos vermos expostos a esta ou àquela prova! Quão melhor seria curvarmos as nossas cabeças em humilde submissão, dizendo, "está bem", e"tudo acabará bem"! Quanto à Deus Quem determina a nossa posição, podemos estar certos que é uma posição sensata e salutar; e até mesmo quando nós, louca e obstinadamente, escolhemos uma posição, o Senhor, em Sua misericórdia, domina a nossa loucura e faz com que as influências das circunstâncias da nossa própria escolha operem para nosso bem espiritual.
É quando os filhos de Deus se encontram nos maiores apertos e dificuldades que têm o privilégio de ver as mais preciosas manifestações do caráter e da atividade de Deus; e é por esta razão que Ele os coloca fraquetemente numa situação de prova, a fim de poder mostrar-Se de um modo mais notável. O Senhor podia ter conduzido Israel através do Mar Vermelho para muito além do alcance das hostes de Faraó, muito antes que este houvesse saído do Egito, porém isto não teria glorificado inteiramente o Seu nome, nem teria confundido de uma maneira tão completa o inimigo, sobre o qual queria ser "glorificado" (versículo 17). Também nós perdemos muitas vezes de vista esta preciosa verdade, e o resultado é que os nossos corações fraquejam na horta da provação. Se tão somente pudéssemos encarar as crises graves como uma oportunidade de Deus pode mostrar, em nosso favor, a suficiência da graça divina, as nossas almas conservariam o seu equilíbrio, e Deus seria glorificado, até mesmo no profundo das águas.
Trecho: Mackintoch-Comentários do Êxodo
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