segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Enlaçados pelo maravilhoso amor de Deus

Enlaçados pelo Maravilhoso Amor de Deus
Pr. Flávio Alves – Olinda, 27 de dezembro de 2014.

Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor;
Oséias 11.4

Nos dias atuais a infidelidade conjugal tornou-se comum. Na sociedade brasileira, o adultério deixou de ser crime. Milhões de pessoas sofrem todos os dias na amarga experiência de uma traição ou de um amor não-correspondido. A dor de ser trocado, traído ou abandonado pela pessoa amada tem deixado a vida de muitos mais triste e desesperadora. E sobre este sentimento que fala o livro do profeta Oséias.

O ser humano é um ser sentimental, e foi este sentimento amargo como fel que o profeta Oséias teve que vivenciar. Particularmente, eu sempre desejei pregar sobre este livro tão pouco lido, pouco falado, pouco conhecido. Mas, quando me pus à lê-lo e estuda-lo jamais imaginava o quão belo e profundo é o livro de Oséias. Sem dúvida, se podemos chamar João de “O Apóstolo do Amor”, podemos chamar Oséias de “O Profeta do Amor”, pois ninguém no Antigo Testamento mostrou tanto o palpitar do coração amoroso de Deus pelo seu povo como ele.

O nome Oséias equivale ao nome de Josué e Jesus em hebraico, e significa “Jeová salva”. Mas, esta realidade só viria a se cumprir depois de um duro juízo de Deus sobre o povo de Israel. Na época de Oséias e de Amós, o povo estava dividido em dois reinos, o do norte, chamado Israel, e o do Sul, que se chamava Judá. Enquanto Judá teve vários reis que temeram a Deus e buscaram a verdadeira religião de Yahweh, os reis do Norte sempre foram infiéis e idólatras. Quando Oséias começou a profetizar, Jeroboão II estava trono e havia muita prosperidade, mas quando ele faleceu, o período de prosperidade e riqueza estava terminando. Mas, ao invés do povo voltar-se para o verdadeiro Deus, continuaram adorando a falsos deuses.

As elites israelitas fizeram alianças políticas com o Egito e a Assíria, sua confiança estava nessas nações, mas elas se tornariam depois nos seus maiores opressores. Não se voltaram para Deus, preferiram confiar no homem e nos seus falsos deuses. A vida moral do povo também ia de mal a pior, e o só prevalecia o mentir, o roubar, o adulterar. Não havia verdade, amor, e nem conhecimento de Deus em Israel (Os 4.1). Foi nesse contexto triste e trágico que Deus levanta Oséias, o primeiro profeta da graça e o primeiro evangelista de Israel para falar não apenas aos ouvidos, mas aos olhos do povo.

Enquanto Oséias falava as palavras de Deus ao povo, ele mesmo as vivenciava. As palavras que ecoavam dos lábios do profeta soavam com mais força porque ele mesmo as sentia na sua vida pessoal. Nenhum profeta da Bíblia tem sua vida pessoal tão exposta como Oséias. Deus ordenou ao profeta que se casasse com uma mulher prostituta e adúltera chamada Gômer. Com ela o profeta se casou e a amou, assim como o Senhor amou a Israel. Porém, dentro dela estava um mal que a atraía ao adultério. Mesmo com o amor de seu marido Oséias, ela procurava outros homens.

Com ela Oséias teve Jezreel, para simbolizar o castigo que estava por vir; uma filha chamada Desfavorecida, para simbolizar que Deus não iria mais conceder seu favor ao povo, e um filho, que colocou o nome de Não-meu-povo, pois Israel não era mais povo de Deus, e nem Jeová o seu Deus. Esses nomes estranhos falavam ao povo a mensagem que Oséias recebera de Deus. Israel havia pecado tanto que o castigo estava por vir, mesmo a prosperidade que eles gozavam não significava a aprovação divina. Uma verdade que os adeptos da teologia da prosperidade não podem digerir. Pois, riquezas, dinheiro e prosperidade não são sinais da benção de Deus e nem tampouco da aprovação divina.

É possível alguém prosperar financeiramente e mesmo assim ser condenada ao inferno. Mas, a benção de Deus é diferente, ela não acrescenta dores e nem está nas riquezas, ela está sobre aqueles que fazem a boa e agradável vontade de Deus. É possível ter pouco e ser próspero e ter muito e não ser próspero.

A mensagem de Oséias não foi bem recebida e ele foi hostilizado. Assim acontece com todo verdadeiro profeta de Deus. Somos chamados para confrontar o povo com verdades muitas vezes inconvenientes, mas tão contundentes quanto necessárias. Não somos chamados para agradar as pessoas que vivem em pecados e ainda assim querem ser abençoadas por Deus. Fomos chamados para sermos fiéis à mensagem que mesmo sendo duras e perfurantes, são verdade e vida!

A infidelidade da esposa de Oséias fez com que ela abandonasse sua própria casa e família. Assim o diabo age para destruir, ele divide primeiro, afasta as pessoas daquelas que lhe amam de verdade, assim como aconteceu com o filho pródigo que saiu da casa de seu pai. Ela abandonou Oséias e foi á procura da felicidade possivelmente nas riquezas que algum homem pudesse lhe oferecer. Assim também Israel apostatou da verdadeira fé em Deus e foi em busca de outros deuses.

Imagine o coração do profeta ao sentir que o amor que ele tratava sua esposa não lhe fora suficiente para impedir que ela saísse de casa. Imagine a dor que ele estava sentindo ao ser trocado. Agora imagine a dor que sentia o coração de Deus ao ser trocado por estátuas de barro e pedra! Mesmo recebendo o amor e os cuidados de Deus o povo adorava a outros deuses. O Senhor chega a declarar: “Porque o vosso amor é como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa. Os 6.4 b”.

Fazendo um paralelo com a parábola do filho pródigo percebemos que mesmo tendo o amor, a proteção e os cuidados do seu pai, o jovem gastador preferiu o mundo e os seus prazeres. E quantos que deixam a casa de Deus onde há o amor e os cuidados de Deus por nós por um mundo traiçoeiro. Será que o amor de Deus não lhes é suficiente?

O livro ainda afirma que ela foi viver dissolutamente no mundo e acabou como escrava. Assim acontece com todos aqueles que abandonam o amor de Deus pelo mundo. Acabam descobrindo que tudo no mundo é belo e bonito, mas não há amor verdadeiro, só ilusão e escravidão. Quantas lágrimas aquela mulher infiel deve ter chorado! Quanto ela deve ter se lembrado do amor de Oséias, seu verdadeiro marido.
Mas, quando aquela mulher estava no meio dos escravos sendo vendida como um objeto, ninguém a valorizou. Saiu para viver no luxo e acabou no lixo. Estava jogada ao chão e acorrentada, coberta de vergonha e arrependimento. Mas, enquanto poucos davam míseros lances por ela, alguém no meio da multidão gritou: “Eu dou quinze peças de prata!” Quem iria pagar tão caro por uma mulher que valia tão pouco? Quem iria dar tanto por quem não merecia nada? Somente alguém que a amava com amor incondicional. Somente seu verdadeiro marido, o profeta Oséias. Eu imagino ele pagando por ela com tudo o que possuía e a levando nos braços para a sua casa. Imagino ele curando as feridas da sua pele enquanto ela chorava. Imagino ela perguntando a ele: “Porquê? Porquê você faz tudo isso por mim se eu não mereço? ” E ele responde: “Porquê assim como o Senhor ama seu povo Israel com amor incondicional, eu também amo você.” Oh! Maravilhoso amor! Oh grandioso amor é o amor de Deus por nós!

O capítulo 11 de Oséias explica um pouco a natureza desse amor. Primeiro ele mostra que o motivo desse amor não está no próprio Israel, mas no próprio Deus. Deus não nos ama porque somos, merecemos ou fazemos alguma coisa. Na verdade, não há nada em nós digno desse amor. Na verdade, enquanto eu digito essas palavras meu coração estremece, e meus olhos se enchem de lágrimas, por que nenhum de nós possui um amor assim. Ele verdadeiramente nos ama!
Agora podemos entender porque Efésios 3.19 afirma que “o amor de Cristo” excede todo entendimento. João afirmou que nós o amamos porque Ele nos amou primeiro (I Jo4.19). Paulo em Romanos afirma que “Deus prova seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Rm 8.8” Jesus pagou as quinze peças de prata para nos resgatar. Ele deu tudo o que tinha para nos trazer de volta para seus braços movido pelo seu amor incondicional.

Segundo, o amor de Deus está na escolha e no chamado de Deus: “Quando Israel era menino, eu o amei; Os 11.1”. Não somos e nem possuímos nada que corresponda ao amor de Deus por nós, mas Ele decidiu nos escolher para amar. Somos alvos do amor soberano de Deus desde a eternidade.
Terceiro, o amor de Deus é o amor que liberta: “... e do Egito chamei o meu filho. Os 11.1”. Deus amou Israel e por isso o libertou da escravidão egípcia, da opressão do inimigo. Ele nos amou e por isso nos libertou da opressão do pecado. Não somos mais escravos, as algemas e grilhões da morte foram despedaçados pelo poder do sangue do cordeiro que desceu pela cruz de Cristo.

Em quarto lugar, o amor incondicional é o amor que protege e cuida: “Todavia, eu ensinei a andar Efraim; tomei-os nos meus braços, mas não atinavam que eu os curava. Os 11.3” O Deus que liberta da escravidão é o mesmo que cuida e protege o seu povo pelo deserto. Deus alimentou o seu povo, cuidou de suas roupas e calçados, protegeu dos inimigos e alimentou. Esse é o amor de Deus que cuida do seu povo e provê o que ele precisa.

Em último lugar, o amor de Deus por nós é como laços de amor: “Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor. Os 11.4”. Deus deseja aproximação, comunhão, vida plena com ele, intimidade. Ele não deseja que ninguém fique á força na sua Casa, mas pelas cordas do seu amor. Devemos estar tão presos a este amor que nada no mundo nos atrairá! Devemos amá-lo tanto porque Ele nos amou que nenhuma oferta que o mundo apresente nos afastará dele. Quero ser amarrado da cabeça aos pés ao amor incondicional de Deus, porque somente Deus nos ama de verdade. Oh! Que maravilhoso é o amor de Deus!

No amor de Cristo,

Pr. Flávio Alves

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