PONDERAÇÕES SOBRE O PODER DA ANGÚSTIA
Aflição e angústia se apoderam de mim; Salmos
119.143 a
A vida
cotidiana nos faz mergulhar na monotonia e nas profundezas do indiferente.
Ser mais um
no meio de todos. Ninguém vê ou sente a falta de outro. Nada muda com ou sem a
existência de alguém. Essa é a ideia que angustia muitas mentes em diversas
épocas em todos os lugares. Na angústia, o homem pode deixar-se dominar pelas
mesquinharias do dia-a-dia, e assim cometer o pior ato de covardia contra si
próprio, ou elevar-se ao autoconhecimento em sua mais profunda dimensão.
Para os
tais, nesse momento, as coisas da vida e do mundo ficam desprovidas de suas
importâncias e perdem o significado, dissolvendo-se na nulidade absoluta. Todos
os socorros dos títulos e funções sociais são ineficazes em debelá-la. “o homem
sente-se completamente perdido e desvalido”.
A angústia aniquila as cores do mundo ao redor, escurecem o negro vazio
de tudo, assinalando que tudo é nada. Como diz Heidegger: “o homem sente-se,
assim, como um ser-para-a-morte”.
O próprio
Jesus Cristo homem passou por este momento. Na névoa entre as árvores do
Getsêmane angustiava-se o filho do homem. São nessas mais densas trevas de
angústia e aflição desordeira, companheira da morte, que pode nascer a mais
forte das convicções para existência humana. O homem pode atribuir um sentido à
vida e à sua própria existência. Resignificando o mundo e seu próprio ser.
Projetando um futuro confortável para o desenvolvimento do que realmente
importa para si. A existência humana de Cristo tinha um propósito.
Assim,
depois das gélidas madrugadas da angústia mortífera se reergue aqueles que
decidem tomar a rédeas do seu próprio destino. Nossa breve peregrinação no
palco da vida não é de figurante, mas de um protagonista, onde o Autor da Vida
também é nosso diretor e escritor da peça.
Melhor é o
fim das coisas do que o princípio delas; Ec 7.8.
Flávio Alves
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